O julgamento de Sócrates em cena: espetáculo provoca reflexão em tempos de ameaça à democracia

Cena do espetáculo O Julgamento de Sócrates / Foto: Rafa Marques

  Espetáculo O julgamento de Sócrates ; Se há uma técnica que Sócrates, precursor da filosofia ocidental, soube explorar como ninguém, foi o estímulo à reflexão. 

Com texto de Régis de Oliveira, que estreou na dramaturgia com o sucesso “O Deus de Spinoza”, direção de Bruno Perillo e Luiz Amorim como protagonista, O Julgamento de Sócrates é um mergulho na essência humana e no drama que é um marco da filosofia ocidental.

 

" O julgamento de Sócrates " em cena

*Por, Sheila Cristina Santos 


Em tempos marcados por redes sociais, polarização e disseminação de fake news, nada mais oportuno do que um espetáculo que instiga a plateia a refletir sobre a trajetória de um homem que rompeu com as ideias do senso comum e ousou substituir a mitologia pela razão, questionando a natureza humana e a realidade social.

Em O Julgamento de Sócrates, em cartaz no Teatro Itália, Régis de Oliveira se apropria dos escritos clássicos para revisitar o processo que levou à condenação do filósofo grego. No palco, Luiz Amorim dá vida a Sócrates em uma interpretação conduzida com maestria, acompanhado de um elenco primoroso que transporta a plateia à Grécia Antiga.

Durante os atos, o público é convidado a refletir sobre o destino de um homem acusado de corromper a juventude e de atentar contra os deuses. Do cenário à iluminação, cada elemento reforça o clima do julgamento. A música, em harmonia com a movimentação dos atores, flerta na medida certa com o tom dramático que anuncia a proximidade do juízo final do filósofo ateniense.

Mais do que uma narrativa histórica, o espetáculo convida a pensar sobre os próprios fundamentos da justiça. Para Sócrates, a verdade está no homem, que precisa ser provocado a parir ideias por meio da maiêutica — método filosófico de gerar conhecimento a partir do diálogo. Assim, a peça não busca oferecer respostas, mas estimular questionamentos que permanecem atuais.

Mas, afinal, o que é justiça? Sócrates lança essa e outras indagações que atravessam os séculos. O objetivo não está nas respostas imediatas, mas na arte da especulação, no exercício reflexivo que conduz ao conhecimento filosófico — alicerce que, mais tarde, serviria de base para todos os demais saberes, inclusive a ciência.
Nesse sentido, a montagem dialoga diretamente com o presente. O julgamento de Sócrates, há mais de dois mil anos, ecoa em um Brasil onde a democracia é alvo de disputas e a própria noção de justiça é questionada. 

Na Grécia Antiga, a Ágora era o espaço público onde cidadãos debatiam e decidiam os rumos da Pólis. Hoje, entre cortes supremas, disputas políticas e a opinião pública moldada pela velocidade da informação, a democracia continua sendo um exercício coletivo, mas também vulnerável. É nesse ponto que a peça ganha força: a arte se coloca como um recurso lúdico e, ao mesmo tempo, crítico para iluminar o presente.

Texto: Régis de Oliveira - Direção: Bruno Perillo - Elenco: Luiz Amorim, Carlos De Niggro, Breno Ganz, Magnus Odilon, Marcus Veríssimo, Nalini Menezes, Priscila Camargo Priscilla Dieminger, Roberto Borenstein. - Stand in: Gabriel Ferrara e Juliane Arguello 

•    O espetáculo segue em cartaz no Teatro Itália (SP), até 26 de outubro

 

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